O Justiceiro

O Justiceiro

O-Justiceiro

Sebastião Mota de Melo nasceu no dia 7 de outubro de 1920, no Seringal Monte Lígia, no vale do Rio Juruá, no Estado do Amazonas,. Seus pais, Manuel e Vicença Mota, imigrantes cearenses, tinham chegado àquela região na década anterior. O Seringal Monte Ligia se situava à meio caminho entre as cidades de Ipixuna e Eurinepé, distantes 100km em linha reta. Não havia escolas, nem mercearia, nem farmácia. O que o menino Sebastião tinha de sobra era uma exuberante floresta, repleta de vida e de mistérios a serem desvendados. A vida dura no seringal não o intimidava. Logo se mostrou um menino corajoso, com uma imensa vontade de aprender. Tornou-se um exímio pescador e um caçador perspicaz. Distinguia os rastros de cada bicho, quando tinha passado e para onde iam. Entendia os sons da floresta. Reproduzia o canto dos pássaros e já conhecia muitas árvores e plantas. Se encantava com as histórias dos pajés, sobre mapinguari, curupira e tantos outros seres misteriosos da mata. Herdou de seu pai Manuel, sanfoneiro de mão cheia, o gosto pela música e sempre que podia dedilhava seu violão.

O valor depreciado da borracha tornava a vida de um seringueiro muito dura. O jovem Sebastião era um trabalhador incansável e de muita responsabilidade, sabia que precisava ajudar na sobrevivência da família e não se permitia descanso – sua mãe, sempre doente, sofria também de problemas mentais, o que preocupava o rapaz. A cada madrugada ele rompia mata, carrascal e água para colher mais borracha. O espírito era forte mais o corpo logo sentiu o tremendo esforço. Problemas com articulação e reumatismo não o deixariam mais em paz. Aos 18 anos foi trabalhar no seringal vizinho, o Adélia, no trato da cana para fazer açúcar – e também na produção de farinha. Não voltou mais. De temperamento afável e alegre, Sebastião gostou do trabalho coletivo, se integrou rapidamente aos novos companheiros e conquistou a simpatia do patrão. Em pouco tempo se tornou um filho da casa e uma presença imprescindível nas frentes de trabalho. No ano de 1939, apesar da enorme distância, as assustadoras notícias da segunda guerra mundial acabaram chegando. No entanto, para aquele remoto recanto do planeta, aquele terrível evento trazia uma boa notícia: iria faltar borracha para o esforço de guerra e o presidente Getúlio Vargas determinara a reabertura dos seringais nativos, convocando a força de trabalho nordestina. A vida ia melhorar!

Alguns meses depois chegou ao Seringal Adélia um vapor de Manaus, com uma grande leva de imigrantes nordestinos. Eram várias famílias, totalizando, aproximadamente, umas 30 pessoas. Entre elas havia uma jovem, de rosto redondo, por quem Sebastião se encantou. Aportou com seus pais, Idalino e Maria Gregório, e vinha do interior do Rio Grande do Norte. Chamava-se Rita e estava acompanhada de seus irmãos, Manuel, Teresa e Julia. Francisco, o irmão mais velho ficara em Manaus, para seguir direto para o Acre. Sebastião e Rita se casaram em 1946. Exatamente nesse ano terminava a II Guerra Mundial e com ela a urgência de produzir borracha. Os tempos difíceis estavam de volta. O primeiro filho do casal, Valdete nasceu em 1947. Em 48 nasceu João Batista, que faleceu pouco depois. No ano seguinte veio o terceiro filho, Valfredo, que na hora do registro, o escrivão resolveu simplificar para Alfredo. A Família Gregório decide partir para Rio Branco, à convite do irmão Francisco, que lá se estabelecera. Rita e Sebastião preferiram ficar mais um tempo. Em 1955, apreensivo com a saúde e os problemas psíquicos de sua mãe, Sebastião procura um famoso curador da região, conhecido como Mestre Oswaldo e o convida a visitar sua mãe. Mestre Oswaldo, tinha aproximadamente sessenta anos e, do pouco que se sabe, nascera em São Paulo. Era um homem caridoso, eficiente rezador e conhecedor das ervas de cura. De linha espírita kardecista, nos casos mais difíceis abria trabalhos de Mesa Branca. Percebeu logo a forte mediunidade de Sebastião e passaram a ter uma relação de Mestre e discípulo. Nesse período Sebastião começou a incorporar o Dr. Bezerra de Menezes e o prof. Antônio Jorge. Certo dia, o Mestre Osvaldo incentivou Sebastião a se mudar para o Acre, pois este já aprendera a caminhar com seus próprios pés e já era hora de alçar vôo no caminho espiritual. Sebastião e Rita partiram para Rio Branco em 1957. Com três filhos pequenos, Valdete com 10 anos, Alfredo com 7 e Pedro com apenas 1, Sebastião precisou vencer centenas de quilômetros rio Juruá acima, à remo.

Em Rio Branco, levava uma vida de colono e atendia doentes do seu círculo de parentes, compadres e afilhados. Sua fama começou a se tornar notória e passou a dedicar cada vez mais tempo aos trabalhos de caridade. Trabalhava com duas entidades espíritas: o Dr. Bezerra de Menezes e o Professor Antônio Jorge. Nos anos 60, contraiu uma grave enfermidade no fígado, que o levou a procurar o Mestre Irineu. A experiência de sua cura através de uma operação espiritual por ele presenciada fora do seu próprio corpo, o levou a ser colhido pela Doutrina do Mestre Irineu e pelo Santo Daime. Nesse dia, durante um trabalho de concentração, o Mestre Irineu, depois de ouvir suas queixas, perguntou-lhe se ele era homem. Em seguida, mandou que ele fosse para a fila tomar o Daime e depois do trabalho viesse contar o que acontecera. Sebastião Mota voltou para contar a história de sua cura. Voltou não só naquele dia mas em muitos outros, trazendo para o Alto Santo, a sede de trabalhos do Mestre Irineu, muitos dos seus familiares e seguidores. A partir daí ele foi se desenvolvendo dentro do Daime, recebendo suas instruções, que falavam inclusive que ele devia se preparar para erguer um Templo e receber um povo. Ele passava tudo a limpo, diretamente com o Mestre, todas as instruções, assim como os hinos. Depois do desencarne do Mestre Irineu, resolveu seguir o seu destino, e sentiu o Mestre confirmando espiritualmente sua missão. Tudo isso ele declarou em seu hinário O Justiceiro, onde revela todas as provas que passou para afirmar a sua missão espiritual.

Ele contava também que os discípulos mais antigos do Mestre tinham um certo ciúme da consideração que este tinha com Sebastião Mota. E que ele também enfrentou dificuldades em algumas ocasiões, devido a sua forte mediunidade. Como o Mestre Irineu, Sebastião Mota foi filiado ao Círculo Esotérico de Comunhão do Pensamento. Já em idade avançada se interessou pelas leituras da Bíblia, por alguns Evangelhos Apócrifos (o Evangelho de Tomé era um dos seus preferidos), e pela obra de Jorge Adoum, o Mago Jefa. Mesmo que tenha encontrado em alguns desses livros, conceitos chaves, que gostava de utilizar em suas palestras, sua teologia se baseava principalmente em suas percepções e vivências espirituais mais profundas. Em relação ao seu conhecimento e estudo das escrituras, dominava diversas passagens tanto do Velho como do Novo Testamento, às quais ia acrescentando o conhecimento direto e intuitivo das suas próprias mirações. Também gostava de citar as parábolas, enriquecendo-as com saborosas e originais interpretações de caráter esotérico e simbólico. Seu interesse maior era por Daniel, Ezequiel e o Apocalipse. Sempre citava esses livros quando sua intenção era despertar no povo a compreensão dos tempos de hoje. Pois, segundo ele, a transformação do mundo poderia acontecer de repente, num piscar de olhos, da mesma forma que falavam esses profetas. Dizia ainda que muitos achavam que, nos dias de hoje, essas profecias não iriam mais acontecer. Mas que seria exatamente nestes tempos modernos que Deus viria mudar o tempo e o mundo, contrariando todas as expectativas. Sebastião Mota, como o próprio Mestre Irineu e outros mestres da tradição da ayahuasca, centravam a sua experiência religiosa na revelação do êxtase místico, verdadeira experiência direta de Deus, sem atravessadores.

Fonte: santodaime.org

No vídeo, algumas palavras do “Velho Mota” ainda na Colônia Cinco Mil:

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