O Apuro

O Apuro

O-Apuro-1

Francisco Grangeiro Filho foi chefe de feitio do Mestre Irineu e membro do chamado Estado Maior do Centro Livre, integrando também a Comissão de Cura. Ingressou na Doutrina a partir dos anos 50 e veio a desposar a filha caçula de Antônio Gomes, Adália, pedindo a sua mão ao Mestre já que desde que Antônio Gomes falecera em 1946 era o Mestre Irineu o responsável pela família, de modo que pode-se considerar Seu Chico Grangeiro como um “genro do Mestre”. No antigo CICLU, era ele quem preenchia a função de Gestor, já que era o coordenador dos feitios de Daime. Leia seu relato:

”O milagre que ocorreu comigo foi em 1952. Eu cortava seringa. Um dia, caiu uma casca na minha vista. Passei seis dias sem dormir e comendo muito pouco. O olho começou a espoucar, foi logo ficando branco. Fui para a casa da mamãe. Era véspera de ano. O Mestre passou por lá com o Zé das Neves e eu lhe mostrei a vista.

– Olha, Chico, isso aí está ruim. Só um médico pode te ajudar. Eu não tenho ferramenta para isso. 
- Seu Irineu, se eu tiver que perder o olho é com o senhor. Se eu tiver que ficar bom, é com o senhor. 
- Tá bem. Segunda-feira você aparece lá em casa.
 Nessa noite eu dormi, sem remédio, sem nada. Segunda-feira fui lá. Ele estava no roçado e pediu à mulher para me dar um copo de Daime. Eu tomei e fui para casa. No dia seguinte, voltei lá.
- Seu Irineu, recebi um hino, mas não achei futuro não. 
- Quarta- feira, vou abrir um trabalho para você. 
Ele me deu um copo cheio, mas não senti nada. 
- Que tal, seu Francisco? 
- Nada, seu Irineu. 
- Pois eu mirei. Mirei o seu remédio.

Naquele tempo, chegava um doente e ele geralmente atendia na quarta-feira. O doente tomava um copo que ele tinha, assim grande. No meio do trabalho, ia buscar a dieta, buscar o remédio. Todo mundo concentrado. Quando terminava, ele dizia: “O remédio do senhor é tal e tal”. Se fosse Daime era Daime, se não, ele falava. 
- Você tem mel de abelha em casa? – Não senhor. – Pois aqui tem! Raimunda, vai lá e traz aquele vidrinho com mel de abelha. Você molha no algodão e pega um pedacinho de morim e bote dentro bem limpinho.

Pinga no seu olho. Assim fui curado. Não tenho nenhum defeito. Eu tinha boa vontade. Eu ia para a mata procurar jagube e foi ele quem me ensinou. Devido a essa minha boa disposição, um dia, de tarde, ele me chamou: – Chico, você vai ser um general da Rainha. Por que eu vou te dar esse cargo? Porque você chega aqui e diz: “Padrinho, encontrei um jagube, encontrei um folhal”. Então, eu vou lhe dar essa patente. Se não bromar, estou lhe preparando para quando eu sair daqui lhe deixar no meu lugar. Chico, a Rainha me entregou o mundo. Quem quiser comigo, é comigo. Quem não quiser, é comigo. O tanto que eu mando em cima da terra, do mesmo jeito eu mando dentro do oceano.

O hinário de Francisco Granjeiro Filho se compõe de 26 hinos que mostram que ele se tornou mesmo um General da Rainha. É um hinário também de cura, pois tem seus fundamentos nos trabalhos de feitio, nas idas à mata para coleta de material, nas madrugadas em torno da fornalha de cozimento das panelas.

O hinário de Francisco Granjeiro Filho, segundo sua própria família, é intitulado de “O Apuro”. 

fonte: santodaime.org

Para saber mais sobre Mestre Irineu, seus companheiros e o início da Doutrina até os dias de hoje, recomendamos estes 2 clássicos da Literatura Daimista, ambos dos pesquisadores Paulo Moreira e Edward MacRae. Clique na imagem ou aponte sua câmera para o QR Code. Boa leitura!

No vídeo, uma pequena entrevista com o senhor Francisco Grangeiro Filho.

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