O Assessor

  “Chegou ao Acre pelos idos de 1960, com sua mulher e alguns filhos, instalou-se numa colônia e sobrevivia da agricultura, num local vizinho ao Alto Santo, razão pela qual em 63 tomou Daime pela primeira vez das mãos do próprio Mestre. gostou e agarrou-se com unhas e dentes, ingressando definitivamente na Doutrina do Santo Daime. Justamente nessa época deu-se o nosso encontro dentro da sessão, pois eu também ingressava no mesmo batalhão, o que nos facilitou para sermos bons amigos e bons irmãos.”(Luiz Mendes)

  Embora pouco instruído, Tetéu um homem alegre e carismático, onde quer que estivesse transmitia paz e otimismo, ria e gargalhava e fazia os outros rirem e gargalharem contando suas histórias lá do nordeste, da sua infância e juventude.

Tetéu era um homem sério com ternura, corajoso, decidido, gostava de tomar Daime e não tinha medo de tomar. Tudo que era preciso ele buscava no Daime, ao ponto de em determinadas ocasiões se encontrar sozinho, como ele mesmo cita em um dos seus hinos, “estou convidando sorrindo e comigo ninguém quer ir.”

Tetéu, pelo jeito de ser, era pessoa humanitária, gostava de fazer caridade. Nos momentos mais difíceis que se viviam na época, podíamos contar, na certa, com sua presença e apoio, pois ele fazia questão de estar ali de um lado. Se ele era resistente espiritualmente, também o era fisicamente, dormia pouco, bastava que um irmão adoecesse que ele sempre estava pronto, oferecendo sua vigília que era muito boa, não abandonava o doente hora nenhuma. Numa dessas ocasiões um irmão agonizou quatro dias e quatro noites até seu passamento e Tetéu não lhe deixou nem por um minuto, consequentemente foram quatro dias e quatro noites que Tetéu passou acordado. Portanto, presume-se que a origem do apelido Tetéu, que já trouxe da infância, deu-se por este fato de dormir pouco, com base num pássaro tipicamente nordestino que não dorme, só cochila, e chama-se tetéu.

Foi um dos homens de confiança do Mestre Irineu, foi se destacando progressivamente, de fiscal passou ao comando geral do batalhão masculino, sendo logo depois nomeado Assessor direto da presidência do saudoso irmão Leôncio Gomes da Silva. A amizade entre ambos era muito bonita – o que um dizia e fazia o outro assinava embaixo, e a ponto do presidente, que nunca recebeu um hino, afirmar que o hinário do Tetéu era o seu hinário também.

Após a passagem do Sr. Leôncio para o plano espiritual, deu-se um quadro simultâneo onde Tetéu, que já era comandante, foi também aclamado presidente em substituição àquele. No dia 21 de junho de 1985 desencarnou deixando muitas saudades e recordações e um belíssimo hinário constituído de 132 hinos (e mais sete hinos que ele ofertou de presente). Orgulha-me ter podido conhecê-lo, suas virtudes e firmeza são um exemplo para todos os que seguem neste caminho da Luz e do Amor.” 

(Luiz Mendes)

  Tetéu passou por várias dificuldades em seu caminho. Um sinal que foi arrancado por um toco em um acidente em que ele levou um tombo virou uma enfermidade que maltratou bastante seu corpo, mas dessa enfermidade ele se curou com bastante fé e trabalhos com o Santo Daime. Tetéu acabou falecendo de câncer, depois de ter sofrido muito com a doença. Apesar de muito fortes as dores, ele não deixava transparecer o sofrimento que vinha passando, não lamentava e não deixava de rir. Sofria calado. Poucos à sua volta sabiam da gravidade da doença e de como Tetéu vinha sofrendo.

  Em fase terminal, os médicos aceitaram o pedido de Tetéu para ir para casa. Ele saiu do hospital para fazer a passagem na casa do senhor Dilmo e dona Miriam, seu sogro e sua sogra. Passou oito dias em casa. Antes de fazer a passagem, pediu para que madrinha Peregrina, seu Luiz Mendes, os irmãos Raimundo Fernando, Pedro Fernando e Cícero o visitassem para enfatizar que não havia guardado nenhum sentimento ruim das discordâncias durante o seu trajeto espiritual. Em seu velório, para atender sua vontade, seu caixão foi colocado alguns minutos em cima da sepultura de seu grande amigo Leôncio, enterrado ao lado esquerdo de Mestre Irineu.

  O senhor Leôncio passou para seu assessor Francisco Fernando o comando do Alto Santo assim que ficou doente. Depois de algum tempo que o senhor Leôncio fez a passagem, Francisco Fernando liderou a fundação de uma nova igreja registrada como CICLU. Alguns fardados acompanharam Tetéu, como a família de dona Miriam, a família de Luiz Mendes do Nascimento, Zito e família, Dedé e família, Paulo Serra, Manoel do seu Valsírio, Nica e outros poucos. Os fardados que resolveram sair junto com Tetéu começaram cantando em uma sala, depois em uma sede de chão batido junto à casa de moradia de Tetéu, ainda dentro do bairro da cidade de Rio Branco que hoje tem o nome de Raimundo Irineu Serra (vale lembrar que essa região hoje é uma Área de Preservação Ambiental – APA Raimundo Irineu Serra). Hoje o CICLU fundado por Tetéu e alguns companheiros já não existe, sendo que muitos desses que acompanharam Tetéu fundaram outros Centros e lideram trabalhos dentro da linha original de Mestre Irineu.

  Seu apelido carinhoso nasceu de brincadeiras feitas pelos irmãos e amigos da doutrina devido ao fato de Francisco Fernando dormir poucas horas por dia. A origem do nome tetéu é onomatopaica, pois imita o canto de um pássaro que é conhecido pelo mesmo nome. Esse pássaro é famoso por não dormir muito, ficar ligado todo momento. Dizem que este pássaro dorme com o pé no pescoço para quando o pé mexer, ele acordar rapidamente. E os amigos de Francisco Fernando o consideravam muito alerta, sempre atencioso ao que se passava ao seu redor. Mais para o sul do país, o pássaro tetéu é conhecido como quero-quero, tero-tero, teréu-teréu, téu-téu, terém-terém, gaivota preta, espanta boiada e chiqueira.

Com 132 hinos, seu hinário, bonito e disciplinador, dá energia a qualquer pessoa que esteja na doutrina de Juramidam, não importa se chegou a poucos trabalhos ou há algumas décadas. É praticamente impossível se ouvir “Eu tomo Daime / Eu tomo Daime / Não tenho medo de tomar” sem uma energia revigorada dos participantes do trabalho. Outros hinos também são consagrados pelos que partilham da doutrina de Juramidam como “é um, é dois, é três / é quatro, é cinco, é seis / quem não estiver compreendendo / tome Daime outra vez” ou “O Daime me balançou / O Daime me segurou”

Fonte: santodaime.org

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